10 de ago. de 2015

Postado por PIBID Sociologia UFBA
| segunda-feira, agosto 10, 2015



Tecer palavras e alinhavar textos não são atividades fáceis, há um dispêndio de energia física e emocional. Com isso, muitos dos que se encontram no prelúdio de sua vida acadêmica, reverberam sobre si diagnósticos de caráter deterministas diante de obstáculos epistemofílicos (BACHELARD, 1996), expressando frases como: “eu não sei escrever”. Essa afirmativa posiciona a escrita não apenas como um processo ao qual não se domina, mas a desloca para a ideia de “dom”.  A escrita é um exercício que requer uma acuidade mental, mas tal processo não nasce pronto nos indivíduos, mas sim como a resultante de um artesanal modelamento evolutivo.  




    Ao elevar esse fenômeno ao contexto do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência), a Prof. Dr.  Roca -  Coordenadora do subprojeto Sociologia – percebeu a necessidade da criação de instrumentos e espaços que ajudassem os licenciandos no seu processo de aperfeiçoamento enquanto escritores. Tal diagnóstico emergiu diante da necessidade do aprimoramento dos planos e relatórios que são confeccionados.
A proposta piloto de uma oficina de escrita foi testado no VII Seminário PIBID/UFBA, onde obteve-se resultados positivos diante dos questionamentos ou mesmos desabafos dos licenciandos que compõe o programa. Foi perceptível que a criação de planos e relatórios não é um movimento mecanizado de escrita, mas permeado de carga semântica diante das experimentações que o programa proporciona.  
            Diante da demanda de entregas dos relatórios referentes à 2015.1 e a produção dos planos do segundo semestre de 2015, observou-se a importância de uma segunda execução da oficina, já com aperfeiçoamentos constatados como necessários. Diferentemente do piloto, onde estiveram licenciandos de diferentes cursos, a segunda versão foi dedicada aos licenciandos de Sociologia.
            No dia 10 de julho de 2015, reuniram-se para a realização da oficina representantes de todos os setores do subprojeto: coordenação (Roca Alencar); supervisão (Wagner, Mariana e Thiago); bem como os licensiandos (Andreia, Alissan, Neide, Pedro, Iago, Louise, Laís, Miguel, Taiala, Rithiane, Larissa, Leonardo, Jaqueline). Estiveram responsáveis pela execução da oficina Roberta Yoshimura (ex-supervisora) e Thiago Neri. Ressalta-se que a atividade começou com pouco mais de uma hora de atraso, parte do atraso se deu por conta da logística na reserva de uma sala, mas houve também o atraso na chegada das pessoas.  
             A oficina foi pensada em quatro momentos distintos, sendo o primeiro momento destinado ao compartilhamento de experiências. Antes de dar início a esse primeiro momento, foi pedido a todos os presentes que esquecessem qualquer hierarquia ali presente, visto que quando o ambiente é demarcado fortemente por hierarquia, a capacidade de empoderamento pela fala fica limitada.
            Uma crítica que já produzia ruídos nos bastidores é a data em que foi marcado o evento (período de greve na universidade), somado aos poucos dias de intervalo entre o anúncio do evento e sua execução. Esse caso é exemplar para uma equação que ainda não encontrou seu equilíbrio, uma equação chamada tempo.
            O PIBID se situa na interseção dessas duas variáveis, com isso ocorre de os licenciandos terem que produzir um relatório de um semestre escolar que ainda não se encerrou.  As tensões resultantes dessa interseção é um conjunto de conflitos e tensões que reverberam por todo um gradiente de situações.
            Ao iniciar as narrativas e reflexões, o primeiro ponto a ser descrito é a não-preparação dos licenciandos que ingressam no programa, algo muito bem pontuado por Alissan. Outra narrativa intensa foi a de Neide, pois ela relata que na primeira reunião em que esteve presente, teve vontade de sair do programa, pois não entendia o que ocorria, algo que acusa a necessidade de um acolhimento do licenciando na entrada. Essa crítica só reforça a necessidade de espaços e tempos formativos como essa oficina.
            Novamente reaparece a questão temporal, desta vez já também associada ao contexto formativo. Alguns licenciandos, vide exemplo Iago, relata como já na sua entrada no ano de 2012, foi designado a fazer uma intervenção em sala sem a devida orientação prévia. Ainda sobre esse momento das primeiras intervenções houveram muitas falas, Neide destaca como foi impactante o apoio da sua então supervisora Natália, ajudando-a a ter confiança em si nas intervenções seguintes. Outro então supervisor citado com frequência foi Cícero, destacando-se seu incentivo e disciplina com os licenciandos, sempre fomentado a produção acadêmica.  
            Uma dada parte das narrativas foram dedicadas à comparação entre as escolas, os licenciandos mais experientes como Miguel e Laís destacaram as condições das escolas. Os supervisores Wagner e Mariana também destacaram suas descobertas, sustos e temores, enquanto supervisores recém ingressos no programa. Afinal, na condição de supervisores, eles precisam orientar pessoas que nesse primeiro momento conhecem mais o programa do que eles, sendo assim, a relação tem que ser pautada no mais horizontal possível.  
            Em todas as falas, ficou nítido que todos que ingressam no programa fizeram uso da memória dos membros mais antigos para poder entender e se adequar ao programa. 
            Na segunda etapa do programa foi abordado a necessidade de planejar, tomando como premissa as seguintes questões: Para quem planejar? Quem planeja? Como planejar? Essas não são questões fáceis de serem respondias. Afinal, os planos de atividade até então não cumprem sua função principal no programa:  ser um ponto de partida e mecanismo orientador. Sendo renegado a mera etapa burocrática.



            
   Uma das dificuldades em produzir planos eficazes é justamente o fato do planejamento não respeitar a realidade das escolas, pois os licenciandos produzem planos sem sequer saber para qual escola serão designados. Mais uma vez, a temporalidade acadêmica entra em conflito com a temporalidade escolar.
      Explicitou-se a necessidade de conhecer a realidade escolar para que se produza um planejamento operacional, também destacou-se a necessidade de entender a realidade onde a escola está inserida, já que a escola não é uma instituição insulada. Outro ponto relevante refere-se aos instrumentos que deveriam dialogar no momento da produção do plano: 1- LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), 2- PCN (Parâmetros curriculares Nacionais), 3- PPP (Plano Político Pedagógico), 4-  Planejamento por área, 5- Planejamento da disciplina. Mas não se usa todos esses instrumentos, pois muitas das escolas sequer tem o seu PPP disponível.
            Durante a oficina, demostrou-se a necessidade de elaborar um planejamento flexível, visto que há uma necessidade constante de aprimoramento para que o mesmo continue sendo útil ao longo do percurso pedagógico, ao contrário do trato burocrático que tem sido dado. Um planejamento flexível serve como instrumento para avaliação do percurso, permite um vislumbre das etapas pedagógicas, podendo assim ajudar na mensuração da eficácia dos processos adotados.
    


            Alguns dos bolsistas ressaltaram a falta de respostas do institucional  do PIBID quanto aos planos que eles produzem. Além disso, alguns dos licenciandos explicitaram a questão das críticas nas correções, algo comum já que todo acadêmico em início de carreira teme pelas críticas do que escreve. Becker (2011) fala que por vezes não há tempo hábil para uma boa revisão e muitos cientistas iniciantes são receosos de darem seus textos para os outros lerem.  Ele faz questão de enfatizar o quão prolixo é a escrita sociológica, o quanto tentamos emplumar e complexar as orações. Fato que segundo ele, não contribui para uma boa redação e ocupa demasiado espaço do texto. Algo que. uma boa revisão minimizaria.
            Encerrou-se essa etapa com uma espécie de pacto, onde todos os presentes esforçam-se para uma utilização mais dinâmica e flexível de seus planos, entendendo o mesmo enquanto parceiro de trabalho.
            Após breve intervalo, deu-se início a terceira etapa da oficina, um exercício voltado para a construção de planos.  Divididos em duplas, as pessoas presentes foram convidadas a pensar um plano para uma turma hipotética de uma escola também hipotética, foram explicitadas algumas das características dessa turma a serem consideradas para a produção do plano. Ao fim da etapa preparatória, passou-se então a narrar o que cada dupla pensou, isso permitiu que contribuições fossem socializadas, e que sugestões fossem feitas; Iago sugeriu que o modelo de plano poderia ser construído de modo coletivo, sendo assim, o institucional poderia adequar o modelo para que ele seja não submetido individualmente, mas pela equipe da escola.
A última etapa dedicou-se ao aperfeiçoamento dos relatórios, onde se iniciou realizando um comparativo entre os termos relatar e relatório. O primeiro sempre causa boa impressão, adoramos relatar nosso dia, os acontecimentos que cercam nosso trabalho, nossa vida pessoal. Contudo, o termo relatório não goza de mesmo prestígio, sempre que pronunciado um atmosfera de algo burocrático e desnecessário se entranha na mente e coração dos indivíduos. Será mesmo que relatório somente serve à burocracia?
Ao pensar na Antropologia, observa-se que esta é uma ciência que carrega o relatório em suas entranhas, pois boa parte do caderno de campo de um antropólogo é usado para produzir relatórios; dos achados, dos fatos, das dificuldades. Com isso, destacou-se a necessidade de que os relatos sejam o mais fidedigno possível, pois toda ciência cresce diante dos erros muito bem descrito e posteriormente repensados. Acrescido a isso, promoveu-se o debate entorno do aperfeiçoamento em torno da experimentação e observação.
           As três habilidades que precisam serem desenvolvidas para que se produza um bom relato são: o olhar, o ouvir e o escrever. Algo muito bem apresentado e discutido por Oliveira (2006), o autor as apresenta não como meros exercícios corriqueiros, mas enquanto habilidades que requerem aperfeiçoamento científico.
           Ao fim da atividade, muitos dos membros do programa já havia deixado o espaço, a realização da atividade feita em um único dia foi prejudicial, pois dedicar um dia inteiro para essa atividade não é algo que todos puderam fazer. A partir disso já se pode ponderar da necessidade de atividade ser dividida em dois dias.
       A necessidade de atrelar cada intervenção com algum instrumento de avaliação foi algo discutido. É preciso desenvolver mecanismo que possibilitem a mensuração de alcance e eficácia de cada intervenção executada.
         Destarte, as lições deixadas pela oficina foram profundas, um gradiente epistemológico foi percorrido. Um diagnóstico do próprio PIBID/Sociologia e a necessidade do fomento da noção de grupo emergiram.  De produto mais intenso fica a necessidade tornar a formação algo contínuo.
           
Referências

BACHELARD, G. A Formação do Espírito Científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.

BECKER, H.  Manual de Escrita para científicos sociales: como empezar y terminar uma tesis, um libro ou um artículo. Traducción de Teresa Arijón. 1ª ed, Buenos Aires, Siglo veintiuno editores, 2011.

OLIVEIRA, R. C. O Trabalho do Antropólogo: olhar, ouvir escrever. In: OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O Trabalho do Antropólogo. 3 ed. Brasília: Paralelo 15; São Paulo: UNESP, p. 17-35, 2006.