A inserção de um debate a respeito dos movimentos sociais no ensino público é indispensável, visto que muitos alunos/as partem de realidades semelhantes, sendo esta pouco refletida no ambiente escolar. Este tema tem sido bastante recorrente nas provas do ENEM, e tem sido abordado na disciplina de Sociologia como parte do conteúdo para o 3º ano, bem como nas intervenções do PIBID da disciplina em questão. O Colégio Padre Palmeira, localizado no bairro de Mussurunga, em Salvador, não foi exceção, já que o tema trabalhado durante a segunda unidade escolar, com as turmas de terceiro ano, foi justamente este. Em uma atividade proposta pela supervisora, Deise Queiroz, a qual ocorreu entre os dias 21 de Julho e 06 de Agosto, os alunos/alunas, da turma do turno matutino, teriam que montar seminários sobre os diferentes movimentos sociais (movimento negro, movimento indígena, movimento feminista, movimento LGBT e os movimentos de luta pela moradia e pela terra), utilizando materiais disponibilizados pela professora, e também provenientes de suas próprias pesquisas.
O resultado desse trabalho foi muito rico, utilizando como
recurso para a apresentação dos seminários vídeos e debates, mas algumas
equipes inovaram e fizeram uma letra de RAP para abordar o movimento de luta
pela moradia, convidando representantes do movimento, além de reportagens e
outras ferramentas. Os/as estudantes realizaram apresentações inovadoras e
emocionantes. Além da apresentação das equipes, os seminários geraram debates
proveitosos, familiarizando os/ as estudantes com as temáticas e despertando
contradições e curiosidades acerca dos temas. Questões como cabelos e a
identidade racial, relações de gênero, direitos sexuais, paternidade
responsável e corresponsabilidade masculina, diversidade sexual, redução da
maioridade penal, legitimidade dos movimentos sociais, ações afirmativas, cotas
foram provocações surgidas durante as apresentações. Também houve a
oportunidade de discutir problemas/ discriminações/ preconceitos presentes no
cotidiano das turmas. Os bolsistas do PIBID do turno matutino participaram como
expectadores desses trabalhos conduzidos pelos/as estudantes. Para o turno
vespertino, a metodologia foi conduzida pelo/a bolsista Miguel e Alissan que
ficaram responsáveis em provocar a turma e selecionar os recursos que seriam
utilizados.
O material utilizado foi escolhido pelos grupos, dentre os
quais citamos alguns: “Acorda, Raimundo...Acorda!” e “Era vez uma outra Maria”
e “Porta dos Fundos: Negro,Suspeito e Negro”, dentre outros para sensibilização das temáticas referidas. Percebemos que a apresentação dos vídeos possibilitava uma reflexão que conectava com as experiências individuais e o debate motivava para as diversas colocações, associando com suas vivências do cotidiano. Em seguida, foram apresentados à turma os conceitos de movimentos negro e feminista; os contextos históricos nos quais eclodiram os movimentos, bem como as peculiaridades de ambos os movimentos no Brasil, destacando as dificuldades e as conquistas. Ainda houve um debate sobre a redução da maioridade penal, tema que toca lateralmente a temática racial, conduzido pela supervisora Deise. Neste momento apresentamos o vídeo “A quem interessa a redução da maioridade penal?”, que apresentou fundamentações e implicações que a medida trará na vida dos jovens, principalmente na vida dos indivíduos que
vivem nas periferias urbanas, sobretudo os negros.
Sobre a participação de convidados por uma das equipes que
ficou responsável pelo Movimento dos Sem Teto de Salvador, vale registrar a
participação de duas lideranças que ajudaram a desconstruir ideias
preconceituosas e explicar o que significa ser sem teto de acordo com a
política de habitação no Brasil, além de compartilhar as experiências de
militância, como a luta por direitos, além de responderem perguntas feitas
pelos estudantes. As turmas participaram bastante, foram manhãs e tardes muito
prazerosas. O protagonismo, claro, foi dos/as estudantes, os quais levantaram
inúmeros questionamentos importantes, desencadeando em debates frutíferos e
acalorados. Acreditamos que ficou claro para os/as estudantes que é necessário,
inclusive para a vivência social deles/as fora do ambiente escolar, compreender
a violência como algo que vai além de uma agressão física, pois há atos que
violam os direitos humanos, direitos estes reivindicados pelos movimentos
sociais.
Era uma vez uma outra Maria
Acorda, Raimundo...Acorda!
Opção sexual?