20 de ago. de 2015

Postado por PIBID Sociologia UFBA
| quinta-feira, agosto 20, 2015
Larissa Lima Santos
Leonardo Lima Santos
Pedro Fragoso Costa Júnior
Rômulo Iago de Jesus e Santos
Thiago Neri



Em meio ao caldeirão das relações de poder incrustadas nas ações humanas, a política é uma terminologia de sabor marcante – adocicado para poucos, amargamente apodrecido para muitos. É assim também que pensam a maioria dos brasileiros com relação à política, pois há uma noção de que ela é uma podridão só – expressa através do elevado nível de corrupção – capaz de ofertar oportunidades de ganhos ilegais a qualquer um, gerando uma expectativa distorcida: “Se estivesse lá roubaria também”.
Diante dessa realidade de aversão à importância da política, torna-se de relevante ação o trato das relações políticas no âmbito do ensino da Sociologia no ensino médio. A forma de abordar como as diferentes formas de governo se comportam foi um desafio imposto, sendo assim a melhor resposta foi a mais simples: um jogo de dicas.  
Confeccionamos cartazes colando os nomes de três formas de governo: monarquia, autoritarismo e democracia. Além disso, fizemos dicas para que os estudantes em grupo discutissem e colassem cada dica de acordo com a forma de governo que eles acreditassem ser a correta.
O autoritarismo como “os regimes que privilegiam a autoridade governamental e diminuem de forma mais ou menos radical o consenso, concentrando o poder político nas mãos de uma só pessoa ou de um só órgão e colocando em posição secundária as instituições representativas” (BOBBIO, 1998), Democracia como “Governo do povo, de todos os cidadãos, ou seja, de todos aqueles que gozam dos direitos de cidadania” (BOBBIO, 1998) e monarquia como “um regime substancial, mas não exclusivamente mono pessoal, baseado no consenso, geralmente fundado em bases hereditárias e dotado daquelas atribuições que a tradição define com o termo de soberania” (BOBBIO, 1998).
A metodologia de utilização de dicas e divisão em grupos objetivava que os estudantes tornassem o processo de “aprendizagem significativa” (COSTA; MORAES; JÚNIOR. 2012) e fossem protagonistas na construção dessa aprendizagem. É válido ressaltar que:

Com a utilização de atividades lúdicas o ensino torna-se mais participativo e dinâmico, e deste modo, o aluno deixa de ser um simples receptor de informações transmitidas pelo professor passando a ser um agente ativo durante as aulas, e como resultado passa a ter maior interesse pela disciplina. (COSTA; MORAES; JÚNIOR. 2012).
                   
           Na reunião de preparação da atividade, dividiu-se entre os bolsistas do PIBID a elaboração para que cada um ficasse responsável por uma forma de governo e criasse quatro dicas sobre a forma de governo. Com isso, foram criadas 12 dicas, já se pensando que seria possível dividir cada turma em quatro grandes grupos. Atentamos que o indicado não era exclusivamente o número de acertos, mas uma auto avaliação do quanto eles estavam à par do assunto.








            




        Nos dias 16 e 17 de julho a atividade foi aplicada nas turmas 3º BN e 3º AN respectivamente. Combinamos de chegar às 16h30minhs no colégio para acertar os últimos detalhes da atividade, como por exemplo: cortar as dicas, testar os equipamentos como o Datashow e a caixa de som, além de salvar o vídeo no computador da escola para ficar mais fácil para utilização na atividade.
        Para a atividade utilizamos a sala de multimídia do colégio. Alguns estudantes chegaram cedo na turma 3º BN, mas em sua maioria chegaram atrasados. Situação corriqueira, uma consequência de a maioria estar retornando do trabalho no final da tarde, pegando engarrafamentos, entre outras situações. Novamente o tempo foi elemento gerador de empecilhos, pois na turma 3º AN dois terços da turma chegaram com um certo atraso.  Assim que os alunos chegavam, eram orientados pelos bolsistas como proceder na atividade, recebiam os materiais ou se integravam em algum grupo já feito.
    Dúvidas surgiram durante todo o processo de montagem dos cartazes. Alguns estudantes confundiram as características da monarquia com as do autoritarismo, enquanto outros buscaram pegadinhas nas dicas para ver se realmente estavam fazendo direito.  Os alunos e alunas discutiram bastante sobre o tema. Alguns ficavam somente olhando, o que é comum. Os monitores (licnciandos): Pedro, Larissa, Iago e Leonardo, ficaram passando nos grupos para poder observar e ajudá-los de alguma forma, mas sem dar alguma pista.
         A turma 3º AN durante a execução demonstrou afinidade e participação mútua. Três dos grupos se mostraram confusos entre as dicas que mencionavam os três poderes. Embora alguns comentassem alguma semelhança entre o autoritarismo e a monarquia, ressaltavam a relação da monarquia com a figura do rei. Contudo, dois dos quatro grupos erraram na colagem das dicas que mencionava os três poderes do Estado, levando-os a confundirem as características entre autoritarismo e democracia. Os outros dois grupos colaram corretamente as dicas nas respectivas colunas.
      Por sua vez, na turma do 3º BN observa-se que na maioria dos grupos não ocorria a leitura coletiva no grupo nem o debate sobre em qual forma de governo cada dica se encaixaria, mas os estudantes iam lendo individualmente a dica e colocavam na forma de governo que acreditavam ser a correta. Com isso, nós bolsistas, ficamos mais próximo dos grupos, incentivando que discutissem coletivamente sobre as dicas. Foi perceptível que os estudantes que chegaram atrasados ficaram prejudicados, pois quando se encaixavam nos grupos, a maioria já tinha discutido sobre as dicas, alguns já tinham chegado a colar as dicas, e com isso não puderam contribuir muito na construção da atividade.
Para finalizar, os licenciandos passaram na turma 3º BN um vídeo explicativo sobre as formas de governo que auxiliou a tirar mais algumas dúvidas da turma em relação às dicas utilizadas na dinâmica da atividade. Já que não tivemos como reproduzir o vídeo pra a turma do 3º AN, pois um professor havia levado a chave da sala multimídia pra casa por engano, a turma comentou sobre as dificuldades para decidir à respeito das dicas e sobre qual forma de governo cada um achava mais viável para se viver em sociedade.

Agora temos que ter cuidado com os termos sociológicos que os alunos têm dificuldade de compreender; e isso aconteceu em um momento da exposição. Contudo, fizemos uma intervenção que, de modo geral, acredito que conseguimos fazer com que os educandos compreendessem melhor o tema. (Leonardo, licenciando em Ciências Sociais)

Considerando a avaliação como parte do processo de elaboração e execução da atividade, uma semana após a execução da intervenção, os licenciandos voltaram à sala de aula para colher as opiniões e impressões dos estudantes sobre as atividades através das respostas deles a um questionário elaborado em conjunto pelo grupo do Pibid que atua no colégio. Obtendo os seguintes dados:

Com relação à discussão das três formas de governo, você considera:

Turma 3ºAN
Desnecessária
Pouco relevante
Relevante
Muito importante
0
0
02
18

Turma 3ºBN
Desnecessária
Pouco relevante
Relevante
Muito importante
0
0
1
19 

A atividade mostrou que seu conhecimento sobre o tema estava:

Turma 3ºAN
Abaixo
Regular
De acordo
Acima do necessário
03
08
07
02

Turma 3ºBN
Abaixo
Regular
De acordo
Acima do necessário
6
9
5
0

O formato da atividade em equipe para construir cartazes foi:

Turma 3ºAN
Ruim
Pouco interessante
Interessante
Ótima
01
0
12
7
          
Turma 3ºBN
Ruim
Pouco interessante
Interessante
Ótima
0
0
7
13


Com relação às explicações e apoio dos monitores:

Turma 3ºAN
 Ruim
Regular
Boa
Ótima
0
03
03
14

Turma 3ºBN
Ruim
Regular
Boa
Ótima
0
0
7
13


Com relação às falhas é possível dizer:

Turma 3ºAN
Não houve
Ocorreram poucas
Ocorreram muitas
08
11
1

  
Turma 3ºBN
Não houve
Ocorreram poucas
Ocorreram muitas
9
10
1



Em sua maioria, os estudantes concordam que debater sobre as características das formas de governo é importante e que a atividade feita pelos licenciandos do Pibid, com o formato de elaboração de cartazes com dicas, ajudou a reforçar o conhecimento dos discentes sobre o tema.
Os educandos consideraram o trabalho em equipe na elaboração dos cartazes entre regular e ótimo, com a maioria indicando pra ótimo, assim como a orientação dos licenciandos do Pibid durante todo o processo da atividade, que foi considerada com poucas falhas de execução, desde a explicação das regras do jogo até o auxílio no decorrer da confecção dos cartazes.

Acredito que houve falhas, mas, de todo modo, fizemos uma atividade que os educandos participaram bastante, alguns deram sua opinião sobre as formas de governo; e avaliaram bem a intervenção mediante o questionário que aplicamos. (Leonardo, licenciando em Ciências Sociais)

Por fim, é importante comentar a importância da construção e escrita dos relatos pós-atividade. Relatar o vivenciado em sala de aula nem sempre é fácil, já que nem sempre conseguimos escrever logo após a realização da atividade. Mas é significativo explorar a percepção, enquanto licenciando que galga a posição de professor, acerca da atividade na sala de aula, permitindo com a escrita recuperar momentos vivenciados na sala de aula com suas alegrias e desafios e refletir sobre eles.

O professor constrói sua performance a partir de inúmeras referências. Entre elas estão sua história familiar, sua trajetória escolar e acadêmica, sua convivência com o ambiente de trabalho, sua inserção cultural no tempo e no espaço. Provocar que ele organize narrativas destas referências é fazê-lo viver um processo profundamente pedagógico, onde sua condição existencial é o ponto de partida para a construção de seu desempenho na vida e na profissão. Através da narrativa ele vai descobrindo os significados que tem atribuído aos fatos que viveu e, assim, vai reconstruindo a compreensão que tem de si mesmo. (CUNHA, 1997, p.3). 


Na construção de uma educação libertadora, em que os estudantes sejam protagonistas do processo de aprendizagem, é fundamental a percepção de educadores e dos educandos enquanto pessoas que têm: corpo, histórias de vida, biografia, entre outras características. E compreender que todos esses fatores influenciam no processo de aprendizagem no espaço escolar.

Referências

  • BOBBIO, N. Dicionário de Política vol. 1. 11 ed. Brasília: Unb, 1998.

  • COSTA, Rosane Mayara Andrade; MORAES, Cinara Aparecida de; JÚNIOR, José Gonçalves Teixeira. O uso do lúdico em sala de aula – um jogo confeccionado com materiais alternativos. Faculdade de Ciências Integradas do Pontal – Universidade Federal de Uberlândia. XVI Encontro Nacional de Ensino de Química e X Encontro de Educação Química da Bahia. 2012.

  • CUNHA, Maria Isabel da. Conta-me agora! As narrativas como alternativas pedagógicas na pesquisa e no ensino. Revista da Faculdade de Educação. Vol. 23. N. 1-2. São Paulo. Jan/Dec. 1997.

  • GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.