19 de set. de 2014

Postado por PIBID Sociologia UFBA
| sexta-feira, setembro 19, 2014

O texto que se segue é deveras artesanal, resultante de múltiplas mãos e mentes. Com isso, apresenta uma polifonia proposital, galgando ofertar ao leitor um gradiente de retinas que permitam leituras diversas nas mesmas laudas.


Chegada à escola

A questão do deslocamento até o local de estudo e as dificuldades nele presente, continuamente remetem aos cenários rurais, mas poucos tem pensado isso no meandro urbano. Com isso, as falas de Moisés e George são de relevante leitura:  

A primeira impressão foi do difícil deslocamento para o bairro, é oferecido transporte direto em poucas linhas e com intervalos grandes. A Estação Mussurunga é ponto de conexão com o bairro, o coletivo retorna com intervalo de 30 minutos. Ao perguntar sobre o acesso ao Bairro da Paz constatei que para deslocar-me da maioria dos bairros do município de Salvador até lá, faz-se necessário uso de 2 coletivos - até a estação e num segundo momento para a comunidade. Ainda há uma particularidade, pois, da estação saem dois tipos de roteiros: um micro-ônibus com intervalos de 30 min, que por sua vez só cobre parcialmente o perímetro do bairro; um ônibus grande que cumpre com outras localidades específicas como o Areal, local onde se encontra a escola em observação.  Neste primeiro momento, ainda desinformado dos diferentes roteiros, uma vez na estação, adentrei o micro-ônibus o que me fez andar 20 minutos extras desembarcando numa praça e seguindo até encontrar a escola. (Diário de Campo, 13/08/14, Moisés)
Para testar mais uma rota que pudesse me levar mais rápido até o C. Paulo dos Anjos, peguei um ônibus me frente ao antigo Hotel da Bahia com destino aa Estação Mussurunga, o trajeto algo completamente insano, longo, moroso, o que me obrigou a chegar ao local como horário estourado em quase 30 minutos, mesmo eu tendo pegado o 1º ônibus exatamente as 15:40 e o horário de nosso encontro ser 18:00h para que tivéssemos tempo de dar mais uma volta pelo bairro antes das atividades e dar as boas vindas a Moisés, o novo bolsista designado para trabalhar conosco. (Diário de Campo, 13/08/14, George)

Neste dia (13/08/14) o clima que encontramos na escola foi de festa já que estávamos comemorando o Dia do Estudante, os professores da unidade mantêm uma atmosfera agradável de muita descontração e receptividade para conosco. Essa data também marcava o primeiro contato de Moisés com a escola, sobre isso nos disse ele:
Já na escola pude ter o primeiro contato com a sala dos professores, por sinal, bastante movimentada pela troca do turno vespertino para o noturno. Nesse momento, os professores estavam compartilhando um lanche oferecido pela direção da escola para um evento seminal que teria como tema a trajetória dos estudantes enquanto cidadãos. (Diário de Campo, 13/08/14, Moisés)


Um rolê nas quebradas

Acompanhados do supervisor do programa de iniciação à docência, que é também professor e morador da comunidade, foi possível conhecer com mais especificidade as ruas, becos e vielas da localidade dando substância para uma percepção menos superficial do espaço relacional do bairro e podendo fazer considerações sobre o modo de vida dos diferentes sub grupos que começaram a ser delineados ante nossos olhos.
Pudemos ver que o bairro apesar do que se pensa, mantem certa infraestrutura que permite a manutenção de seus moradores, comércio forte e diversificado, templos religiosos de diversas denominações e credos, somados aos projetos sociais. Sobre transporte ainda comenta George:
Comentei com Thiago sobre a relação do motorista do ônibus que me conduziu em relação às crianças e aos estudantes do bairro, falando com todas, permitindo o acesso pela porta dianteira sem cobrar a condução, isso foi algo que me chamou atenção, o que Thiago disse ser comum haja vista que dada a quantidade reduzida de transporte público os moradores acabam por conhecer todos os motoristas e cobradores das linhas de ônibus que atendem o bairro. (Diário de Campo, 13/08/14, George)

Como os demais aparelhos urbanos precários do bairro, as vias são bastante estreitas e têm um fluxo baixo de trânsito de automóveis. Isso possibilita que as pessoas se desloquem pela pista.
Trata-se de um bairro periférico que ainda sofre com muitos estigmas, onde muitos ainda enxergam como local perigoso e ameaçador mas não, a realidade encontrada não se diferencia muitos dos bairros periféricos de Salvador, que sofrem com o descaso por muitas vezes das autoridades e convivem com problemas sociais.
Nesse ponto, o Bairro da Paz reflete um processo que pode ser verificado em diversas partes da cidade de Salvador: o crescimento da renda e do poder de consumo trouxe consigo um número muito grande de pequenos negócios que atendem às demandas cada vez mais crescentes. Pode-se perceber uma ampla gama de lojas que vendiam os mais diversos produtos como acessórios de celular, academia, oficinas, além dos já tradicionais “mercadinhos”, alguns de tamanho considerável.
Pelo horário, encontramos pessoas na rua realizando as mais diversas atividades: indo e voltando para o colégio, faculdade, tomando conta dos comércios, brincando, bebendo, conversando, trabalhando. Enfim, nos disse Miguel:
eu pude perceber que há uma vida muito intensa nos lugares que passei. O que contrastou com o início e o final do trajeto que fizemos, pois seria mais uma parte residencial, com as casas geralmente de luzes acesas e portas fechadas. Nessas duas partes o número de pessoas na rua era muito pequeno. (Diário de Campo, 13/08/14, Miguel)

Cabe salientar que nesse momento de fervor político, as melhorias urbanas como a requalificação de praças, drenagem de córregos, implementação de unidades sanitárias, melhorias habitacionais é nítida, por todos os lados são banners e carros de som dos candidatos, de fato algumas práticas políticas não mudam com o tempo.
Novamente na escola, pôde-se conhecer as instalações bastante amplas, bem ventiladas e de pouca poluição visual, bem como a acessibilidade plena para cadeirantes portadores de necessidades especiais em todos os pavimentos – detalhe curioso, pois, é incomum para escolas de periferia. 

Atividade do dia do estudante

Abdicando da intervenção preparada previamente, a equipe do PIBID voltou à escola após percorrer rapidamente o bairro, com o intuito de participar da atividade do dia do estudante:
Ao retornarmos à escola, comemos do mesmo lanche que os alunos e após a refeição, fomos para a aplicação da atividade; cada professor da escola ficou com uma turma e nesta turma ele deveria ajudar a turma a fazer um cartaz com os anseios, desejos e sonhos dos estudantes. (Diário de Campo, 13/08/14, Zósimo)


Nos bolsistas do PIBID ficamos divididos nas duas turmas que trabalhamos no CEMPA  - o 3ºNA e 3ºNB. Durante os 45 minutos de confecção dos cartazes, auxiliamos e ajudamos os estudantes, tanto na colagem quanto na elaboração das falas das apresentações que seriam feitas no auditório.
Faltava material, faltavam ideias, mas principalmente, faltava vontade. Uma das turmas chegou a se recusar a produzir o cartaz alegando que não houve um preparo para desenvolver uma atividade nesse sentido, junto com Thiago, acabamos nos envolvendo o máximo que podíamos, tudo para fazer com que as turmas com que trabalhamos não ficassem completamente apáticas.
Thiago correu a escola em busca de jornais e revistas para que se pudessem ser feitos recortes, na turma onde não pudemos encontrar material para trabalhar, sugerimos que a turma usa-se palavras chaves, como metas a serem alcançadas tendo como base as oportunidades que podem ser criadas através da educação. Após a confecção dos cartazes, direcionamo-nos ao auditório do CEMPA para as apresentações dos cartazes de todas as turmas do turno da noite.




A produção de cartazes se deu de forma satisfatória apesar dos poucos recursos, cada cartaz representou também um pouco da turma, as mais jovens com mais desenhos, as mais maduras com um rigor maior com cores mais cadenciadas. (Diário de Campo, 13/08/14, Priscila)

Em seguida os alunos assistiram a uma palestra e os grupos de hip-hop e a banda composta pelos alunos da escola também se apresentaram, de forma geral foi uma excelente iniciativa já que nas entrelinhas buscou-se dar evidência aos alunos e tira-los da zona de conforto propondo atividades diferentes que conseguem de fato mudar a rotina do local.


Trocando uma ideia

O Planejamento é algo fundamental à prática docente, sendo esta uma prática que demonstra o respeito do professor, enquanto profissional, para com o aluno. Muitas vezes, abdicamos de algumas questões pelo simples fato de receber ordens e não de que aquilo talvez tenha sido melhor.
Acho que falo por todos quando digo que a sensação foi frustrante, frustrante por mais uma vez percebermos que a educação é o potencial para modificar vidas, mas que para que essas modificações ocorram, é preciso de muita coisa, mas o elemento principal, VONTADE. (Diário de Campo, 13/08/14, George)

O C.E.M.P.A tem duas coisas boas, um material humano maravilhoso que quando estimulado produz com qualidade, e um núcleo do Pibid-Sociologia comprometido com essas pessoas, saímos do colégio por volta as 20:00 horas pois o “evento” continuaria no auditório principal da escola com as turmas reunidas e a apresentação dos “cartazes” que tinham sido produzidos minutos antes, voltamos no ônibus pensando e discutindo muitas coisas


* texto escrito de forma conjunta por Thiago Neri, George Hora, Priscila Menezes, Miguel Pereira, Moisés e Zósimo Ferreira