Vontade,
essa palavra me vem à mente sempre que me dirijo ao C.E,M.P.A, vontade de estar
lá e poder renovar as energias ao perceber que a escola pulsa com vida, vida
real, cheia de contradições e conflitos, com desníveis e desigualdades, mas
ainda assim cheia de vida.
No dia
05 de setembro, nós bolsistas do Pibid-Sociologia, Miguel, Moisés, Zósimo,
Priscila e eu fomos convidados pelo supervisor Thiago para acompanhar o evento
que ocorreu na escola; Projeto: cidadania, política e sexualidade.
Em
particular senti duas coisas, êxtase em ver a dedicação e movimentação de toda
a escola para dar o seu melhor, e frustração por não ter podido participar
mais, ajudar na elaboração dos stands, trocar ideias com alunos, contribuir com
as pesquisas, senti aquele vazio que nos da quando não conseguimos fazer parte
de algo tão singular.
Os
estudantes se organizaram o melhor que puderam, sabemos a dificuldade da
educação em nosso país, escolas sucateadas, falta de material, falta de apoio e
muitas vezes a falta maior, a falta de humanidade, mas o C.M. Paulo dos Anjos
se mostrou cria do bairro onde está, e mostrou a força daqueles que resistem,
por mais que as apostas sejam negativas, vi alunos exaustos, com expressões
carregadas, mas para além do véu do cansaço, o sorriso de canto de boca
daqueles que sentem que fizeram e deram o seu melhor.
Tanta
foi a informação que nós ficamos a correr de uma lado para o outro com vontade
de ver tudo (sofrimento antropológico de nunca dar conta da totalidade),
registar, interagir, ouvir deles como foi a experiência, das drogadição a
natalidade consciente, passando pela diversidade de uma cultura identitária,
fomos bombardeados com a energia daquelas pessoas.
Outra
grande sacada foi o formato dado ao evento, ele ocorreu nos três turnos do
colégio, e os eixos temáticos foram distribuídos em stands, com apresentações e
jogos interativos bem como a explanação das equipes sobre seus temas, vídeos
produzidos e usados para servir de roteiro para alguns temas mais complexos
como DSTs e um falando das influencias afro-brasleiras na música, um vídeo em
particular mexeu bstante com várias de minhas sentimentalidades, uma das turmas
pegou trechos do filme “Amistad” e com a narração de “Paulo Autran” do poema
“Navio Negreiro” de “Castro Alves”, percebi na sala (eu fui incumbido de
avaliar os vídeos junto com outro professor) que as imagens provocaram um
silencio incomodo, era possível sentir no ar uma respiração suspensa, quiçá até
uma brisa de banzo quando vimos na tela a interpretação de uma parte da
brutalidade do trafico escravo, em mim parece que despertou uma memoria
atemporal, como que cravada na alma, e ao ver as chibatadas e seres humanos
acorrentados lançados ao mar, confesso que o coração apertou como quem sente
saudade de quem não conheceu...
E por
fim e não menos importante, foram as apresentações no palco montado na quadra
de esportes do Colégio, lá era possível apreciar o caráter artístico do evento,
uma das turmas montou uma pequena esquete para tratar da questão das drogas,
logo mais se apresentariam grupos musicais formados por alunos/moradores do
bairro iriam apresentar seus trabalhos, na quadra os dançarinos de Break davam
a sensação de ausência de gravidade entre os freezes e os power moves, mas nem
tudo era parte do movimento Hip-Hop no canto da quadra estudantes do turno
matutino (já eram quase 21:00 hs) alternavam entre os “passinhos” e o samba
duro.
Do samba
ao Rap, dos B.Boys e B.Girls aos pagodeiros e reggaeman’s, Do Sindico (Saudoso
e grande Tim) ao passinho do Funk carioca, tudo era pulsante, vivo, e era escola, escola como ela
tem que ser, aberta, dialógica, contribuindo para formar críticos, e na contra
mão aberta a ouvir criticas.
De
curiosos, passamos a interativos e atuantes, quando fomos convidados a ajudar a
avaliar os trabalhos, não consegui dar notas imparciais e técnicas, pois cada
vez que elogiava um trabalho para as esquipes responsáveis e via os olhos deles
cheios de um brilho que eu na minha pedancia de achar que entendo de gente só
conseguia ler como o brilho do orgulho, do reconhecimento, do gosto bom que nos
da quando superamos as barreiras que costumam dizer que não podemos, não
devemos, ou não somos capazes.
Acho que
estou devaneado ou caetaneando de mais a minha impressão, mas nem quero saber,
ela é fruto do que senti quem está escrevendo não um pretenso acadêmico,
bolsista de programa, futuro professor, quem escreve é alguém que se viu no
belo espelho que o C.E.M.P.A se tornou, a voz de quem viu gente que acredita
ser possível, gente de verdade, que longe do rótulos de “moradores de bairro
violento” “moradores de invasão” são vencedores apenas por estar naquele
espaço, e continuar acreditando que se pode fazer diferente, quem dera
houvessem mais educadores compromissados com nossa realidade, muitas revoluções
seriam feitas, enquanto eles não acordam, seguimos nós, sonhando e construindo
a revolução, não a revolução de europeus de séculos passados, mas a revolução
que funciona, seja dizendo a eles que as ferramentas para a mudança estão ao
alcance de suas mãos, ou percebendo que muitos deles já estão de mentes livres,
olhares adiante e prontos pra lutar por seus espaços.
VALEU C.E.M.PA!!!!
Texto escrito pelo bolsista George Hora.