19 de set. de 2014

Postado por PIBID Sociologia UFBA
| sexta-feira, setembro 19, 2014
Vontade, essa palavra me vem à mente sempre que me dirijo ao C.E,M.P.A, vontade de estar lá e poder renovar as energias ao perceber que a escola pulsa com vida, vida real, cheia de contradições e conflitos, com desníveis e desigualdades, mas ainda assim cheia de vida.
No dia 05 de setembro, nós bolsistas do Pibid-Sociologia, Miguel, Moisés, Zósimo, Priscila e eu fomos convidados pelo supervisor Thiago para acompanhar o evento que ocorreu na escola; Projeto: cidadania, política e sexualidade.
Em particular senti duas coisas, êxtase em ver a dedicação e movimentação de toda a escola para dar o seu melhor, e frustração por não ter podido participar mais, ajudar na elaboração dos stands, trocar ideias com alunos, contribuir com as pesquisas, senti aquele vazio que nos da quando não conseguimos fazer parte de algo tão singular.
Os estudantes se organizaram o melhor que puderam, sabemos a dificuldade da educação em nosso país, escolas sucateadas, falta de material, falta de apoio e muitas vezes a falta maior, a falta de humanidade, mas o C.M. Paulo dos Anjos se mostrou cria do bairro onde está, e mostrou a força daqueles que resistem, por mais que as apostas sejam negativas, vi alunos exaustos, com expressões carregadas, mas para além do véu do cansaço, o sorriso de canto de boca daqueles que sentem que fizeram e deram o seu melhor.
Tanta foi a informação que nós ficamos a correr de uma lado para o outro com vontade de ver tudo (sofrimento antropológico de nunca dar conta da totalidade), registar, interagir, ouvir deles como foi a experiência, das drogadição a natalidade consciente, passando pela diversidade de uma cultura identitária, fomos bombardeados com a energia daquelas pessoas.
Outra grande sacada foi o formato dado ao evento, ele ocorreu nos três turnos do colégio, e os eixos temáticos foram distribuídos em stands, com apresentações e jogos interativos bem como a explanação das equipes sobre seus temas, vídeos produzidos e usados para servir de roteiro para alguns temas mais complexos como DSTs e um falando das influencias afro-brasleiras na música, um vídeo em particular mexeu bstante com várias de minhas sentimentalidades, uma das turmas pegou trechos do filme “Amistad” e com a narração de “Paulo Autran” do poema “Navio Negreiro” de “Castro Alves”, percebi na sala (eu fui incumbido de avaliar os vídeos junto com outro professor) que as imagens provocaram um silencio incomodo, era possível sentir no ar uma respiração suspensa, quiçá até uma brisa de banzo quando vimos na tela a interpretação de uma parte da brutalidade do trafico escravo, em mim parece que despertou uma memoria atemporal, como que cravada na alma, e ao ver as chibatadas e seres humanos acorrentados lançados ao mar, confesso que o coração apertou como quem sente saudade de quem não conheceu...
E por fim e não menos importante, foram as apresentações no palco montado na quadra de esportes do Colégio, lá era possível apreciar o caráter artístico do evento, uma das turmas montou uma pequena esquete para tratar da questão das drogas, logo mais se apresentariam grupos musicais formados por alunos/moradores do bairro iriam apresentar seus trabalhos, na quadra os dançarinos de Break davam a sensação de ausência de gravidade entre os freezes e os power moves, mas nem tudo era parte do movimento Hip-Hop no canto da quadra estudantes do turno matutino (já eram quase 21:00 hs) alternavam entre os “passinhos” e o samba duro.
Do samba ao Rap, dos B.Boys e B.Girls aos pagodeiros e reggaeman’s, Do Sindico (Saudoso e grande Tim) ao passinho do Funk carioca, tudo era  pulsante, vivo, e era escola, escola como ela tem que ser, aberta, dialógica, contribuindo para formar críticos, e na contra mão aberta a ouvir criticas.
De curiosos, passamos a interativos e atuantes, quando fomos convidados a ajudar a avaliar os trabalhos, não consegui dar notas imparciais e técnicas, pois cada vez que elogiava um trabalho para as esquipes responsáveis e via os olhos deles cheios de um brilho que eu na minha pedancia de achar que entendo de gente só conseguia ler como o brilho do orgulho, do reconhecimento, do gosto bom que nos da quando superamos as barreiras que costumam dizer que não podemos, não devemos, ou não somos capazes.
Acho que estou devaneado ou caetaneando de mais a minha impressão, mas nem quero saber, ela é fruto do que senti quem está escrevendo não um pretenso acadêmico, bolsista de programa, futuro professor, quem escreve é alguém que se viu no belo espelho que o C.E.M.P.A se tornou, a voz de quem viu gente que acredita ser possível, gente de verdade, que longe do rótulos de “moradores de bairro violento” “moradores de invasão” são vencedores apenas por estar naquele espaço, e continuar acreditando que se pode fazer diferente, quem dera houvessem mais educadores compromissados com nossa realidade, muitas revoluções seriam feitas, enquanto eles não acordam, seguimos nós, sonhando e construindo a revolução, não a revolução de europeus de séculos passados, mas a revolução que funciona, seja dizendo a eles que as ferramentas para a mudança estão ao alcance de suas mãos, ou percebendo que muitos deles já estão de mentes livres, olhares adiante e prontos pra lutar por seus espaços.
VALEU C.E.M.PA!!!!


Texto escrito pelo bolsista George Hora.