12 de set. de 2015

Postado por PIBID Sociologia UFBA
| sábado, setembro 12, 2015
Por  Barbara Carolina
Rithiane Almeida
Mariana Bittencourt

O modo como as formas de poder se encontram pulverizadas no cotidiano demonstram como tais relações se apresentam de modo bastante sutil ou se encontram invisibilizadas. Como forma de dar continuidade da temática em torno das relações de poder, a proposta apresentada neste relato procurou compreender as novas manifestações de poder.

Enquanto uma preocupação de demonstrar como é possível localizar no cotidiano de estudantes e educadores tais relações. Em torno dessa demanda girou a preocupação em discutir questões como o preconceito em suas diversas manifestações: racismo, machismo, homofobia, xenofobia. 

Porém por questões obvias de tempo foi eleita uma dessas manifestações como elemento social para a intervenção proposta. Articulando o pensamento presente na sociologia contemporânea e a realidade cotidiana dos estudantes foi eleita o tema da xenofobia, tendo em vista que a própria unidade escolar apresentava como tema interdisciplinar A cultura do Nordeste. 

A decisão do grupo por trabalhar com xenofobia foi um modo de conectar os conteúdos com o cotidiano dos estudantes, já que estamos situados no Nordeste e as relações preconceituosas que se construíram historicamente em torno do mesmo enquanto região geográfica e social.




A intervenção teve como proposta trabalhar com o eixo Ser Nordestino: afirmação e negação, tendo em vista que seria possível articular os conceitos teóricos de poder simbólico em Pierre Bourdieu e microfísica do poder em Michel Foucault, como forma de entender como o poder se manifesta de modo diferenciado na sociedade atual. Utilizando como recursos didáticos o uso de matérias de jornais, música do cancioneiro nacional e a construção de um zine ou fanzine. Sendo que a aplicação dessa intervenção se deu em duas etapas- ou seja, duas semanas de intervenção em sala de aula, pelos licenciandos Fred Solón, Rithiane Almeida e Zosimo Ferreira, presentes nas quintas-feiras; e Barbara Carolina e Lays Caroline, presentes nas sextas-feiras.

A opção pelo fanzine ou zine se dá em virtude do diagnostico da dificuldade de leitura e escrita por grande parte dos estudantes, assim como pelo fanzine ser uma forma de comunicação direta, além de ser um instrumento de comunicação que surge com a própria juventude. 

Aqui se destaca a necessidade de lembrar que o ato de planejar deve levar em conta o publico para o qual se planeja. Desse modo é importante criar mecanismos pelos quais os próprios estudantes construam a sua leitura de mundo a partir de uma temática proposta.

“o objetivo era centrar na produção de conhecimento pelos próprios estudantes que focar em exposição teórica, como nas intervenções anteriores, o que se daria por meio da elaboração de um fanzine, que seria concluída na segunda etapa da intervenção” ( Rithiane Almeida, Licencianda em Ciências Sociais) 

Para o entendimento de como se elabora um fanzine foi pensado no uso de slides com o passo a passo. Cabe nesse momento uma ressalva de como a estrutura da unidade escolar acaba impedindo uma explanação melhor sobre o tema. Os projetores da escola se encontravam com defeito impedindo o uso e a sua utilização didática. E assim se assume um plano B onde o caráter expositivo teve que tomar conta do modo como seria explanada a aula.

Colocando a intervenção em prática foi possível observar que

“As turmas até interagiram bastante, mas somente no desenrolar da segunda intervenção pude perceber que eles não conseguiram fazer as associações fundamentais para entender o tema e o que deveria ser feito. Aqui destaco a importância de ter podido analisar o que eles produziram: essa espécie de avaliação é bastante interessante para medir o que (e se) eles de fato entenderam o discutido. Portanto, pude perceber que a maioria deles continuaram bastante na zona de conforto e no senso comum em sua produção. As associações que eles fizeram muitas vezes fugiram do tema, ou sequer faziam menção ao mesmo. Além disso, houve pouco entusiasmo dos mesmos no que diz respeito à produção. Na primeira etapa da intervenção, a maioria queria fazer em casa, queria sair da sala mais cedo, não queria discutir em conjunto o que deveria ser construído no fanzine. Na segunda aula, muitos esqueceram o material, e o que deveria ser feito - muitos nem sabia do que se tratava. Só começaram a fazê-lo efetivamente quando foi salientado por Mariana que iria "valer ponto".  Começo a  pensar sobre como a proximidade do intervalo afeta a dinâmica da sala de aula, tendo em vista que nossas intervenções acontecem em horário que precede o intervalo e na aula que vem logo em seguida. Penso ainda no que é o PIBID e quem somos efetivamente para os estudantes, pois os modelos de intervenção que temos buscado tem sido diferentes uns dos outros e ainda assim não tem logrado muitos êxitos.”(Rithiane Almeida, Licencianda em Ciências Sociais)






Bourdieu considera a arte, a religião, a língua, etc., como estruturas estruturantes, citadas algumas vezes por ele como modus operandi, uma expressão do latim que significa modo de operação. Utilizada para designar uma maneira de agir, operar ou executar uma determinada atividade seguindo sempre os mesmos procedimentos, seguindo sempre os mesmos padrões nos processos. O segundo subtítulo fala dos sistemas simbólicos como estruturas estruturadas ou opus operatum. No terceiro subtítulo, Bourdieu trata das produções simbólicas como instrumentos de dominação. Por fim, trata dos sistemas ideológicos legítimos. 

Poder Simbólico é um poder de construção da realidade que tende a estabelecer uma ordem gnosiológica, ou seja, o sentido do mundo supõe um conformismo lógico, uma concepção homogênea que torna possível a concordância entre as inteligências. Destarte, os símbolos são instrumentos de integração social. Enquanto instrumentos de conhecimento e comunicação eles tornam possível o consenso acerca do sentido do mundo social que contribui fundamentalmente para a reprodução da ordem social. 

A presença dos elementos culturais se orientam pelo elemento das relações de poder na contemporaneidade se utilizarem dos mecanismos simbólicos como forma de reprodução dos padrões culturais exigidos pela cultura hegemônica, essa é a leitura que pode ser extraída a partir da literatura de apoio para as intervenções já citadas acima.





“Penso ainda no que é o PIBID e quem somos efetivamente para os estudantes, pois os modelos de intervenção que temos buscado tem sido diferentes uns dos outros e ainda assim não tem logrado muitos êxitos. Pelo menos para os professores eu já tenho uma ligeira ideia do que é o PIBID: estagiários que precisam trabalhar e que fazem reforço do que o professor aborda em aula. Isso é o que eu tenho ouvido na sala dos professores, e eu realmente não acredito que esse seja o papel do PIBID. De fato, é bastante estranho, mas tenho observado inclusive nos eventos em que todos os PIBIDs UFBa são postos em diálogo, que o papel do bolsista PIBID ID não é bem definido. Não somos estagiários, não somos professores e nem somos reforçadores de conteúdo. Até onde sei e tenho vivido, vamos às salas de aula para extrapolar os conteúdos, trazendo reflexões acerca do que os alunos trazem nas salas de aula e que o professor acaba percebendo, reflexões que podem ter um caráter mais lúdico e dinâmico. Experimentamos a docência, mas especialmente maneiras diferentes das tradicionais de 'dar aula'.” (Rithiane Almeida, Licencianda em Ciências Sociais).

Por isso, é preciso destacar o árduo trabalho de transladar os temas ricos em discussões epistemológicas e o laboro em uma sala de aula do ensino médio. Demonstrando o quão importante são as intervenções para ter-se um diagnóstico do ensino de Sociologia no Ensino Médio, criando novos mecanismos de interlocução. É preciso compreender como o PIBID vem construindo seus espaços no interior da unidade escolar e como cada prática pode levar a novos saberes pedagógicos.

Como nos coloca Luckesi:

"A avaliação da aprendizagem não é e não pode continuar sendo a tirana da prática educativa, que ameaça e submete a todos. Chega de confundir avaliação da aprendizagem com exames. A avaliação da aprendizagem, por ser avaliação, é amorosa, inclusiva, dinâmica e construtiva, diversa dos exames, que não são amorosos, são excludentes, não são construtivos, mas classificatórios. A avaliação inclui, traz para dentro; os exames selecionam, excluem, marginalizam"
.
A partir dessa vivência ocorrida em duas etapas outro fator relevante é a avaliação. Como podemos aplicar as intervenções porém sem ter uma comprovação de que esses conteúdos de fato estejam sendo reelaborados pelos estudantes? Na tentativa de responder a essa indagação realizou um modelo de atividade escrita na qual misturando questões de cunho subjetivo com interpretação de imagens e textos, bem como de questões de múltipla escolha como as do ENEM- Exame Nacional do Ensino Médio. 

Referências:

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 2008.
LUCKESI ,Cipriano.  O que é mesmo  o ato de avaliar aprendizagem? Disponível em:https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/2511.pdf