Trabalhar
com Educação é se deparar com desafios diários e ao que toca o
campo da Sociologia esses desafios se alargam. É como entrar em um
jogo de pique-esconde tão velho conhecido de nossa infância, em
determinado momento se faz necessário tirar a venda dos olhos e
contemplar os aparecidos. Deste
modo o subprojeto de Sociologia no Colégio Estadual Duque de Caxias,
situado no bairro da Liberdade elaborou sua primeira intervenção no
sentido de fazer com que os estudantes se permitissem tirar a venda
dos olhos e repensar o seu próprio espaço e pudessem construir com
o aporte teórico da Sociologia reflexões sobre as relações
sociais nos quais estão imersos.
Com a primeira intervenção
acontecendo nos dias 23 e 24 de abril cujo tema “Poder,
educação, escola e sociedade pelos conceitos de Bourdieu, Durkheim
e Mezzaros, a serem realizados com algumas das turmas de 2º ano do
Ensino Médio. Com a presença dos bolsistas Fred Solón, Rithiane
Almeida, Lays Caroline e Barbara Assumpção.
Deste
modo a intervenção se deu por aula expositiva de estimulo ao
debate em torno de questões onde:“houveram claramente dois momentos: quando solicitávamos que eles sinalizassem com duas palavras "O que é escola" e "O que é educação", no primeiro momento existia um nível muito alto de elogios à escola e a seu papel presente na fala daqueles que respondiam. Nesse segundo momento a participação já se tornou mais intensa, entretanto eles começaram a se afastar da resposta à pergunta, considerando que escola não é "greve", ou "falta de estrutura", por exemplo.” Os bolsistas trouxeram as contribuições de Durkheim, Bourdieu e Mészaros para essa temática sempre estabelecendo um paralelo com as palavras que foram ditas pelos discentes, com o objetivo de mostrar que a opinião dos mesmos sobre a educação e a escola não está tão distante do pensamento sociológico.
Compreendendo que um dos
objetivos do Ensino da Sociologia no ensino médio é permitir “que
é possível que eles analisem a sociedade e se aproximem do que
sociólogos se debruçam a pensar, provando assim que a Sociologia
está e pode sempre dialogar com a realidade deles, e que ela serve
de ferramenta para potencializar e aprofundar análises que nós
mesmos podemos fazer.
Não
podemos continuar de olhos vendados para os problemas que ronda a
Educação brasileira como a relação espaço físico e quantidade
de estudantes, o que leva a uma organização desarmônica do espaço
que muitas vezes atrapalham na comunicação dos conteúdos. Sendo
que com o presente tema é possível operar nos estudantes uma
reflexão sobre os seus papéis na sociedade e na instituição
social especializada no papel educativo que é a escola. Assim, a
Sociologia continua se apresentando como uma necessidade na formação
dos seres em processo de formação.
PIBID Sociologia Colégio Estadual Duque de Caxias.
A temática dos Direitos Humanos é
cercada de uma carga semântica e de contradições. Por isso, ela se faz de total
relevância aos educandos, pois é preciso entendê-la, bem como identificar as
cenas de violação de tais direitos. Segundo Pitanguy (2009), os Direitos
humanos resultam de embates e lutas, sofrendo avanços e retrocessos. Diante de
sua relevância, o PIBID/Sociologia pensou numa intervenção a ser realizada com
as turmas do 3º A N e 3º B N, cujo recorte foi a Lei Maria da Penha e a
violência contra a mulher.
A atividade baseou-se em um
cordel cuja a temática era a Lei Maria da Penha, foram feitas cópias impressas
para todos os educandos, também foi preparado a execução do cordel por meio de
um áudio. O relato que segue é uma descrição da execução desta atividade, a
mesma ocorreu nos dias 21 e 28 de maio.
No dia 21 de Maio de 2015 deu-se
início a primeira da atividade dos licenciandos do Pibid de Sociologia da UFBA
no Colégio Estadual Mestre Paulo dos Anjos, com a supervisão do professor
Thiago Neri. O tema foi Violência contra a mulher e Direitos humanos.
Como de costume do grupo de
licenciandos, saímos do campus de São Lázaro com destino ao colégio, era por
volta das 15 horas. O caminho foi feito com o ônibus Estação Mussurunga/Barra 3
e após exatas duas horas, chegamos ao colégio.
As dificuldades foram muito além
do trajeto e tempo decorrido para se chegar à escola, e já na primeira parte da
atividade se fizeram presentes:
A equipe responsável pelo
3BN é composta por mim, David e Iago. Contudo, David não se sentiu bem e a
intervenção foi realizada apenas por mim e Iago. Nossa intervenção ocuparia o
horário da primeira e segunda aula, contudo só conseguimos começar por volta
das 19h30minhs em consequência da demora dos/as alunos/as em chegar ao colégio
e na sala de aula. (Larissa, Licencianda/Sociologia)
Abordamos nesta atividade o fenômeno histórico de como
a mulher foi representada ou não nas cartas dos Direitos Humanos. Começamos com
o período histórico da Antiguidade falando um pouco do papel da mulher naquela
sociedade. Depois, falamos do período da Revolução Francesa, em 1789, onde a
primeira Carta foi escrita e a luta que Olympia (uma mulher que lutou para que
as mulheres estivessem inseridas nessa Carta) travou para que a sociedade olhasse
para a condição da Mulher. Em seguida, falamos do contexto da Declaração de
1948, a segunda Carta dos Direitos Humanos. Discutimos a partir daí elementos
mais atuais da condição da mulher na política e no trabalho.
Exposição de Iago e Larissa na turma 3º BN
Durante toda a
exposição na turma 3º AN, pôde-se notar o interesse dos estudantes no tema, bem
como a atenção deles na atividade a partir de perguntas simples e rápidas
durante o processo. Os educandos opinavam, criticavam e alguns reproduziam ideias
vigentes. Suas opiniões, de modo geral,
seguiam na crítica à condição que a mulher viveu e estava vivendo, a partir do
que nós apresentamos e do que o Professor/Supervisor apresentou anteriormente.
O que é muito bom, pois o supervisor já tinha trabalhado o tema Direitos
Humanos com os educandos e eles conseguiram relativamente incorporar o
conhecimento mediado; a ideia central. E nós, bolsistas, complementamos. .
A turma 3º AN é composta
majoritariamente de jovens mulheres, apesar de discutir essa preponderância do
homem em sua soberania ao longo dos tempos em diversos setores e ambientes da
sociedade, as mulheres da turma insistiam em dizer que não era bem assim, talvez
isso se dê pela percepção destas alunas ao seu cotidiano e vivências
anteriores, pois de modo convicto elas se colocavam “lá em casa não é bem
assim, mainha quem manda”. É bem
verdade que muitos lares são matrilineares, com as mulheres exercendo a chefia
econômica, ou mesmo lares ausentes de figuras patriarcais.
Enquanto outros educandos,
inclusive do sexo masculino, atentavam que se tratava de um nível macrossocial, ressaltando que realmente essa imagem da mulher submissa
estava mudando. As alunas reforçaram o discurso que em suas casas homens não
mandariam em nada, que seriam delas o poder de mando.
Cordel sobre a Lei Maria da penha
É importante ressaltar também que
após esse momento no 3º AN e 3º BN, apresentamos o cordel sobre a Lei Maria da
Penha e explicamos como seria a atividade. A escolha do cordel foi feita tanto
pela linguagem acessível quanto por apresentar uma forma literária própria da
cultura nordestina. Em seguida, educandas na turma 3º B N pediram a fala e esse
foi o ápice da aula, pela contribuição que elas deram de exemplos cotidianos. Elas
são especialistas de suas próprias experiências (PIRES 2008).
Na turma do 3º B N - turma também composta por maioria de
mulheres, porém mais velhas - ocorreram três grandes falas, a primeira educanda
comentou que sofreu violência doméstica do marido (importante relato que
comenta como a violência sofrida não
ocorreu dentro de casa, mas na rua, com isso percebemos que o olhar sobre a
violência doméstica não está remetido apenas ao espaço da casa, mas com relação
ao agressor ser um membro da família), ela contou que os filhos a questionaram
sobre quem havia agredido ela, mas pelo fato de os filhos dela serem novos, ela
contou que tinha sido assaltada. Contudo, os filhos continuaram questionando,
pois ela tinha saído com o marido e não entendiam porque só ela tinha se
machucado e que sabiam que tinha sido o pai deles quem tinha agredido ela. Ela
ressaltou que sentia muita vergonha de expor tanto para os filhos quanto para
outras pessoas que o marido havia agredido ela.
A segunda educanda trouxe a questão da
violência simbólica, deu o exemplo de homens que constrangem a mulher na frente
dos amigos dele apontando defeitos, como por exemplo, que a mulher é
preguiçosa. Achei (Larissa) interessante por ser levantada a questão da
humilhação por uma característica do que a mulher não deve ser a partir da
construção social dos papéis de homem e mulher. Acredito ser necessário
destacar que logo nas primeiras semanas de aula, uma educanda contribuiu bastante
sobre as reflexões sobre a violência contra a mulher, contudo, ela não apareceu
nas duas últimas aulas.
O terceiro
depoimento foi de uma educanda que contou o caso de uma amiga dela. Segundo
ela, sua amiga foi perseguida pelo namorado até ser morta e enterrada por ele no
Bairro da Paz.
Após a reprodução do cordel na
turma do 3º A N, uma das educandas compartilhou uma realidade dela, em que sua
mãe sofria violência doméstica, mas mesmo assim continuava com o parceiro e
esta cena se repetia frequentemente, bastava o dito cujo consumir bebidas
alcoólicas. A educanda no fim da sua fala concluiu que a mãe era sim culpada,
pois se mostrava uma atitude doentia e ela não compreendia o porquê da mãe
insistir num relacionamento nessas condições. A maioria das opiniões defendia
esse mesmo discurso, defendiam o respeito que cada mulher deve ter, por outro
lado criticavam as mulheres em alguns fatos em que elas são vítimas. Na
perspectiva de Almeida (2005), culpabilizar a mulher é algo recorrente, feito
por vizinhos, amigas, ou mesmo parentes.
Esse tipo de fala demonstra como
está enraizada certas construções sociais, revelando como é difícil quebrá-las.
Sendo assim, tem-se a consciência de que a eficácia da intervenção não repousa
na resolução de tais contradições, mas sim no fomentar do debate, pois isso é o
pilar da superação dessas contradições.
Chama-se a atenção para o fato
que ocorreu. Um professor apareceu na sala durante a intervenção, pediu a fala
e acabou argumentando e apresentando pontos que fugiam daquilo que tínhamos
proposto como discussão. O professor de Geografia começou
com um dos discursos mais decepcionantes que poderíamos esperar de uma pessoa
que faz um curso de humanas. Recheado de pré-noções, o professor começou
falando sobre o fato de a mulher ser mais emotiva e mais sensível que o homem e
por isso não teria como se defender das agressões.
Seguiu então
com - em parte com certa validade - conselho aos estudantes, que os mesmo não
agredissem suas namoradas de forma alguma e que, caso um relacionamento não desse
certo, seguissem em frente sem perseguir a ex-parceira. Como se não bastasse o
primeiro passo, ele tinha que dar um segundo em falso, continuou o seu discurso
elogiando o cordel pelo fato de ele explicar também a quem o homem deve
recorrer quando fosse agredido. Pois, na atualidade, segundo ele, as mulheres
se tornaram as opressoras que resolveram agredir os homens.
Dando continuidade à atividade,
dividiu-se os educandos em grupos e apresentou-se qual seria a pretensão
daquilo, fazê-los criar: uma poesia, paródia ou cordel. Avisamos que as
apresentações ocorreriam na próxima aula (dia 28), deixando-os com o restante
da aula para pensar no que seria suas apresentações. Para finalizar esta
primeira etapa da intervenção, resolvemos testar o mecanismo avaliativo que
havíamos pensado. Por meio de um instrumento qualitativo simples, tratava-se de
três perguntas simples: 1- Que bom? 2- Que pena? 3- Que tal?
·“Que
bom!” é a parte em que eles escreverão o que eles gostaram na atividade, tanto
em relação ao desempenho dos licenciandos, quanto em relação a estrutura da
atividade e escolha do tema;
·“Que
pena!” é a parte em que eles escreverão o que não gostaram do que teve na
atividade e do que sentiram falta na mesma;
·“Que
tal?” é a parte em que os estudantes darão sugestões para que as próximas
atividades sejam cada vez melhores.
Que
bom!
Como pontos
positivos: encontram-se a temática abordada, a presença dos licenciandos, a
metodologia e o recurso utilizado. Sendo que, o mesmo depoimento pode fazer
referência a mais de um desses pontos. Dos sete depoimentos recolhidos, cinco
faziam referências a importância do tema. Alguns contextualizando com o
cotidiano deles e com a visão que eles têm da sociedade em que vivem. Três dos
depoimentos apontaram a presença dos licenciandos como algo positivo: “Que bom
ter pessoas jovens nos ensinando de um jeito divertido a entender os direitos
das mulheres”. Dois dos depoimentos fizeram referência à utilização da
literatura de cordel e a metodologia mais dinâmica para a aula utilizada pelos
licenciandos.
Que
pena!
Como pontos
negativos: o curto tempo de aula e a falta de profundidade no tema. Eles
sentiram que o assunto poderia ter sido mais trabalhado pelos licenciandos.
Alguns pontuaram que faltou um diálogo maior entre estudantes e licenciandos e,
um depoimento em especial, apontou que o ruim mesmo é que as leis não sejam
cumpridas no país.
Alguns dos depoimentos:
“Que pena que o tema não se prolongou
por mais tempo em sala de aula”
“Que pena que foi bem rápido apesar que
a culpa foi nossa que chegamos atrasados, mas no próximo pede uma aula a mais.
Rsrsrs...”
“O que não gostei foi do tempo curto
pois deveria ter pelo menos umas três aulas em seguida para dar mais tempo para
dar opinião conversar mas, pois os estagiários iria ter mais tempo para se
entusiasmar com as turmas”
“Não trocamos idéias com vocês. Seria
legal.”
Que
tal?
Dentre as
sugestões dos estudantes para uma atividade com mais qualidade, fizeram-se
presentes: avaliar conhecimento dos estudantes com perguntas, aprofundar e
conversar mais sobre esse tema e a atividade em um espaço diferente da sala de
aula. Outros pontos interessantes sugeridos pelos estudantes foram que os
professores da escola aprendessem a dar aula com dinâmicas semelhantes a
utilizada pelos licenciandos e que fossem elaborados projetos pelos
licenciandos que ajudem os estudantes a usar a criatividade deles. Parte
considerável dos depoimentos trazia convites para o retorno dos licenciandos à
sala de aula para novas “palestras” com esse mesmo assunto ou assuntos novos.
Talvez, a pergunta “que tal?” não tenha sido interpretada como um espaço para
sugestões para melhorias da atividade nesses casos. Este é um ponto para se
pensar antes da próxima avaliação de atividade.
Na semana seguinte foi o momento
dos grupos do 3º A N apresentarem suas criações em forma de cordel, paródia,
poesia, entre outros relacionados ao tema: direitos da mulher e violência
doméstica. As apresentações foram diversificadas: poesias, cordéis, uma paródia
acompanhada de um violão. Alguns alunos se mostraram tímidos ao apresentar as
produções. Por se tratar do último horário, com a euforia de ir para casa, os
grupos acabavam indo embora após suas apresentações.
Apresentação na turma 3º AN
Apresentação na turma 3º AN
Todos/as
da turma 3BN que fizeram a atividade apresentaram poemas. Os mesmo refletiram o
que foi apresentado na intervenção, foram ressaltadas as questões relacionadas
à violência contra a mulher. Foi perceptível que a equipe composta por meninos
apresentaram algumas características da mulher que são construídas socialmente
– acredito que a interferência do professor de geografia e a falta de uma
resposta à fala dele foram prejudiciais nesse sentido – mas, no geral
conseguimos que eles/as discutissem e problematizassem a temática dos direitos
humanos e da violência contra a mulher. Perdemos o primeiro horário e uma parte
do segundo esperando que os/as alunos/as chegassem à sala e os barulhos
externos somados a que muitos/as alunos/as falam baixo impediu que eu
conseguisse escutar completamente os poemas e fez com que eu precisasse lê-los
depois da aula para fazer a observação.
Concluo, afirmando que estou
gostando muito dessa experiência no PIBID de Sociologia. Fiquei um pouco
nervosa quanto à intervenção, muito pela pressão de conseguir dar conta das
minhas responsabilidades. Acredito que esse nervosismo é algo que eu preciso
trabalhar mais, além de tentar que a apresentação do conteúdo na intervenção
não seja de forma estática, mas que eu consiga fazer com que seja um diálogo
mais fluido trazendo para realidade. Todos esses anseios serão possíveis a
partir da prática constante, mas o principal é a atividade autocritica que já
venho desempenhando para que o processo de mudança ocorra mais facilmente.
(Larissa, Licencianda/Sociologia)
Destarte, mensurar a eficácia de
uma intervenção é tarefa complexa, ao se afirmar isso não se pode colocá-la como
algo insuperável, mas sim como um processo que requer grande acuidade mental de
todos da equipe PIBID. Reconhecer todas as dificuldades encontradas e falhas,
está nos primórdios da evolução científica e educacional. Sendo assim, este
relato é rico à medica que expõe também muitos dos problemas, que na
perspectiva de Bachelard (1996), são do campo epistemofílico e epistemológico.
Referências
Almeida, S. M. A. Reflexões sobre violência doméstica:
algumas contribuições para (re) pensar a violência contra crianças,
adolescentes e mulheres. História Unisinos, 9(3),
177-183, 2005.
BACHELARD, G. A
Formação do Espírito Científico: contribuição para uma psicanálise do
conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
PIRES, Álvaro P. Sobre
algumas questões epistemológicas de uma metodologia geral para as ciências
sociais. In: Poupart J, Deslauriers JP, Groulx LH, Laperriere A, Mayer R,
Pires AP. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos.
Trad: Ana Cristina Nasser. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008
PITANGUY, Jacqueline P. ;
BARSTED, L. Linhares. Os direitos humanos das mulheres.Fundo
Brasil de Direitos Humanos. Relatório de atividades, 2009.
No dia 03/06/2015, fizemos (Taiala e Louise)
uma intervenção nas turmas do 3º ano “F” e “B” do colégio estadual Teixeira de
Freitas, a respeito do tema “criminalização da periferia”. Com o intuito
introduzir o assunto, primeiramente questionamos os alunos sobre quais deles
consideravam que moravam em bairros periféricos e quais não, e por quais
motivos eles chegaram a essa conclusão. A partir das respostas buscamos
compreender e comparar o que os alunos entendem como periferia, apresentar os
vários possíveis conceitos que a define. Foi observado que muitos deles
associam a periferia à pobreza, violência e ao tráfico.
Para entrar em confronto com essa visão,
apresentamos cartazes com fotos de lugares muito organizados e bonitos e
pessoas de sucesso, tendo ao lado das imagens alternativas com nomes de bairros
de Salvador, para que os alunos respondessem em qual deles estava localizado
tais lugares, ou de onde vieram tais pessoas. Diferentemente do que imaginavam,
todas as fotos retratavam lugares e pessoas de algumas periferias de Salvador, o
que causou surpresa e estranhamento por parte deles. No final, os cartazes
foram colados nas salas com o título “A periferia também tem!”. O objetivo foi
mostrar as possibilidades e a verdadeira realidade que existe nos bairros
periféricos, gerando assim uma profunda reflexão.
Já nas turmas “A” e
“E”, elaboramos (Marineide e Rosângella) slides a partir de trechos do documentário
“Notícia de uma Guerra Particular” que seriam exibidos na Sala de Vídeo da
Escola.
Como uma das turmas
estava com horário vago, foi sugerido que juntassem as duas turmas para melhor
aproveitamento do tempo. Porém, por problemas técnicos nos equipamentos, não
foi possível realizar a atividade na Sala de Vídeo, visto que o tempo foi
insuficiente para sanar tais problemas. Sendo assim, como o horário da turma do
3º Ano E já tinha se esgotado, resolvemos então aplicar a atividade na turma do
3º Ano A na própria sala de aula, usando apenas o notebook para passar os
slides e tentamos ainda exibir alguns trechos do documentário.
Os alunos participaram ativamente. Em alguns
momentos houve embates a respeito do assunto, o tema preconceito racial também
entrou em pauta e alguns alunos, principalmente no 3º ano A e B, defenderam as
periferias, relatando casos de injustiça e preconceito com as mesmas.
No
dia 07/05 realizamos uma atividade de integração nas turmas do 3º ano “F” e “B”
do Colégio Estadual Mario Augusto Teixeira de Freitas, sob a supervisão do
Professor Wagner Carvalho.
A atividade consistiu na apresentação mútua
entre os alunos, bolsistas e o professor, e partiu de um sorteio de duplas
aleatórias com o nome de todos os presentes, para que dessa forma cada
indivíduo tivesse a função de apresentar seu par. Aconteceu, em muitos
momentos, das duplas serem formadas por pessoas que não interagiam em sala, o
que gerou uma maior integração entre a turma como um todo.
Foram sugeridas perguntas aos alunos para que
estas guiassem a apresentação de seu respectivo par, as perguntas sugeridas
foram: Nome, onde mora, o que pensa a respeito do colégio, há quanto tempo
estuda no Teixeira e o que imagina para o seu futuro.
O objetivo que tínhamos com o sorteio das
duplas, era promover uma integração entre a turma, e aproximar pessoas que
poderiam ser distantes. Quanto às perguntas que foram sugeridas, procuramos
registrar os bairros onde os alunos moram e os cursos que pretendem fazer no
futuro, com a pretensão de, a partir destas informações, traçarmos um perfil
dos estudantes daquelas turmas. Por fim tínhamos o intuito de construir uma
“arvore” (utilizando cartolina e papel metro) com os planos que eles desejavam
para o futuro, a arvore foi construída previamente por nós, e registramos os
cursos que os alunos pretendem fazer, mas por problemas técnicos (aulas de
quarenta minutos por falta de merendeiras) não podemos colocar a arvore em
exposição no mesmo dia, como desejávamos.
Já nas turmas “3 E” e
“3 A” foram realizadas cirandas com o intuito de aproximar os alunos das
referidas turmas. Ao som de uma música, ia passando uma bola de mão em mão e ao
parar a música, quem estivesse com a bola na mão teria que se apresentar. A atividade
ocorreu de forma satisfatória na turma “E”, porém, a turma “A”, estava um pouco
agitada, o que atrapalhou um pouco.
Apesar das adversidades
(sobretudo na turma A, onde houveram mais recusas), o perfil de todas as turmas
foram bem traçados, e num contexto geral o resultado foi satisfatório.
Resultados alcançados
Os alunos receberam bem a atividade, apesar de
o tempo ter sido curto (quarenta minutos de aula, por conta de problemas que
estavam acontecendo no colégio com as merendas dos alunos). Na primeira turma
(3º F) não conseguimos concluir a atividade, mas na segunda turma (3º B) correu
corretamente.
Registramos os cursos no 3º ano “F”, e os
cursos e os bairros no 3º ano “B”, e concluímos que há uma grande
diversidade entre os bairros que os alunos moram, e que os cursos pretendidos
pelos alunos em ambas as turmas foram predominantemente medicina e
direito.
Com
relação às turmas A e E, o resultado também foi satisfatório apesar de
persistirem algumas recusas na turma A. Os alunos receberam bem todas as
bolsistas e se mostraram entusiasmados com as atividades do programa.
Ocorreu na tarde do
dia 27/05 a atividade do Pibid na turma do 3º ano D, no colégio Estadual Padre
Palmeira. Essa atividade teve como objetivo estabelecer um acordo de
convivência entre os bolsistas, supervisor e turma. Tendo em vista desenvolver
uma relação de confiança e produção de conhecimento o mais horizontal possível,
propusemos uma roda dialógica, onde todos opinassem sobre quais os
comportamentos e atitudes deveriam ou não ser evitadas durante o período da
atividade. No início da atividade, escrevemos no quadro o seguinte binômio:Pode/ Não pode.
Os pontos em que
todos estiveram de acordo foram sobre a forma de tratamento e respeito uns para
com os outros: atitudes como formas pejorativas (xingamentos) e qualquer tipo
de bullying não seriam admitidos, de quem quer que fosse. Com
efeito, houveram pontos que exigiram uma maior discussão. Um deles foi
referente ao uso do aparelho celular. Quando os bolsistas colocaram como um
comportamento prejudicial ao andamento da atividade, os estudantes ponderaram
que em determinados casos como problemas de saúde na família ou mesmo para fins
de pesquisa na internet voltada para a atividade, o aparelho de celular deveria
ser permitido, entre outros pontos discutidos em sala.
Um ponto importante
que foi discutido na parte das obrigações mútuas: os estudantes cobraram a
liberdade de sair da sala de aula sem ter que pedir a permissão, posição
claramente contra a metodologia que começa nas séries iniciais e que persiste
até o ensino médio. Eles se comprometeram em utilizar dessa liberdade com
responsabilidade, se ausentando apenas quando necessário. Também houve um
pedido da turma para que os modelos das atividades não obedeçam ao padrão
tradicional de aula, e que pudéssemos trazer novas metodologias e inclusive
pensar o ambiente de construção de conhecimento para fora dos limites do
colégio.
Por fim, aplicamos a dinâmica do barbante que teve como norte a
escola como um direito ou dever. Dentro do que já foi discutido anteriormente
pela supervisora Deise, os estudantes tiveram que estabelecer um paralelo entre
a experiência de ensino formal e a perspectiva do acesso à educação pública,
gratuita e de qualidade como um direito e a partir disto, analisar se de fato a
escola era de fato um direito, ou apenas uma obrigação ou antes um meio
necessário e bastante desestimulante para o ingresso no mercado de trabalho. É preciso ressaltar que esse fio condutor rendeu uma rica discussão
e debate nós e os estudantes. Esperamos que essa atividade tenha sido um marco
na relação entre bolsistas e turma, e que possamos relatar em breve os bons
frutos que a convivência sadia e de respeito venham a produzir em termos de
atividades.
Ocorreu na manhã da última quinta-feira (28/05), o Caminhos abertos: a trilha entre a escola e a universidade pública, evento que teve como objetivo promover a ida de estudantes do 3º ano do Colégio Estadual Padre Palmeira, localizado no bairro de Mussurunga, ao Campus Central da Universidade Federal da Bahia (UFBA), buscando promover uma aproximação entre estudantes da rede estadual com um ambiente universitário público.
A manhã dos estudantes das quatro turmas do 3º ano do Padre Palmeira na última quinta-feira foi sem dúvida alguma, bem diferente do que estavam acostumados. Em vez de um tradicional dia letivo, eles iriam conhecer o local de desejo da maioria dos jovens que sonham em ingressar no ensino superior: a UFBA. Assim como a equipe responsável pelas atividades do PIBID, era possível notar a ansiedade e curiosidade de alguns frente ao mundo que em breve iriam conhecer.
No caminho para Ondina, muitos observavam uma Salvador pouco vista no cotidiano: com a maior parte das atividades sociais concentradas pela região próxima, apenas alguns estudantes costumam frequentar regiões da cidade como Iguatemi, Rio Vermelho, Vale das Pedrinhas, Garibaldi... pela janela dos ônibus oficiais da universidade, eles viam prédios residenciais de luxo, centros empresariais espelhados, parque da cidade e cruzamentos de avenidas. Espaço esse que esperamos que dentro em breve seja comum no trajeto para a faculdade. Ao chegar no Campus de Ondina, os estudantes puderam conhecer parte da estrutura da universidade federal, como os prédios da Faculdade de Comunicação (FACOM), Biblioteca Reitor Macedo Costa e o Instituto de Letras.
O Evento foi aberto pela coordenadora do subprojeto de Sociologia Roselene Alencar, que por sua vez deu boas vindas às turmas, desejando bom aproveitamento da oportunidade e ressaltando a importância da luta coletiva para uma popularização do acesso e permanência de estudantes oriundos da rede pública de ensino na universidade. Sem muito tempo por causa do já comum engarrafamento nas ruas de Salvador, seguimos para o auditório I do PAV V.
A primeira apresentação ficou a cargo da Professora Drª Anamélia Lins e Silva Franco, professora do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Milton Santos (IHAC) e que apresentou aos estudantes o bacharelado interdisciplinar (B.I). Ela abordou desde a proposta inicial, implantação, impactos dentro e fora do ambiente acadêmico, além de explicar detalhadamente em que consiste os bacharelados e as possibilidades de sequência acadêmica e profissional.
Outro ponto extremamente positivo foi a participação de dois estudantes do B.I de saúde Victor Reis e Aissa Siqueira de Morais, que compartilharam a sua experiência dentro do bacharelado, contando um pouco das vantagens e desafios que o bacharel interdisciplinar tem dentro da estrutura acadêmica. Ao final da apresentação, os estudantes do Padre Palmeira fizeram diversos questionamentos e se mostraram bastante interessados por essa nova modalidade de ingresso, que alguns conheciam, mas em sua maioria não.
Após uma pausa para o lanche, seguiu-se a apresentação de Juliana Marta de Oliveira, chefe do setor de coordenação de programas de assistência ao estudante (CPAE) da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (PROAE). Se ingressar na UFBA é um sonho e tem se tornado realidade para muitos que não competiam (e infelizmente ainda não competem) com jovens com maior recurso financeiro, permanecer de forma digna dentro da universidade é também um ponto importante a ser discutido.
Ela apresentou aos estudantes todos os mecanismos que a UFBA, através da PROAE, dispõe para a garantia de todos os estudantes que atendendo aos pré-requisitos, tenham acesso a recursos como auxílio xerox, auxílio-creche, auxílio-moradia, residência universitária e até bolsa em dinheiro para atender às necessidades mais elementares do estudante requerente. Mais uma vez, as turmas do Padre Palmeira puderam tirar dúvidas e questionarem sobre os dispositivos que poderiam ter direito, quando se tornarem estudantes da federal o que foram prontamente respondidos pela coordenadora Juliana Marta.
Já com o horário no limite para retornarem ao colégio, os estudantes se despediram da última palestrante [essa parte talvez possa ser mudada] e seguiram para uma breve caminhada pela área central do campus de Ondina, onde puderam ver o Restaurante Universitário, a Praça das Artes, o Instituto de Biologia (IBIO), o Pavilhão de Aulas da Federação Reitor Felipe Serpa (PAF I), não sem antes uma pausa para a foto!
Em seguida, passamos pelo Instituto de Geofísica e a Faculdade de Farmácia e depois, sem mais tempo algum para qualquer tipo de visitação, seguimos em direção aos ônibus.
Apesar de todo a engenharia feita para viabilizar o evento e todo o tempo e energia que ele consumiu, nós da equipe Padre Palmeira ficamos contentes com o resultado final. Em que pese que não tivemos o tempo previsto, acreditamos que as turmas do Padre Palmeira puderam ter uma ideia mais consistente sobre a UFBA, tanto do ponto de vista teórico quanto concreto. Lamentamos também que não tenham conhecido as demais unidades que compõem a universidade, em especial o nosso lar, o campus de São Lázaro que fica no Alto da Federação. Com efeito, estamos orgulhosos do ocorrido e do empenho de todos para que algo complexo ocorresse.
Por falar em empenho, gostaríamos de agradecer à coordenação Institucional, especialmente a coordenadora geral, a Drª Alessandra Assis e os funcionários Vando Souza e Carlos Lomanto, que sempre solícitos para com o subprojeto de sociologia, não mediram esforços em nos ajudar com a parte burocrática e indispensável. Também gostaríamos de agradecer a todo o apoio dado pela direção e corpo docente do Colégio Estadual Padre Palmeira, que se compraram a ideia e foram importantíssimos durante todo o evento.
Também é importante ressaltar a participação da profª Anamélia, que desde o início se mostrou entusiasmada com a proposta, o que ficou comprovado durante a sua contagiante exposição, assim como a disposição dos graduandos Vitor Reis e Aissa Morais, que se dispuseram a tirar dúvidas e compartilhar um pouco de suas trajetórias acadêmicas. Agradecemos também a Juliana de Oliveira que gentilmente se disponibilizou em participar do evento. Por fim, um muito obrigado a todos os estudantes que participaram de forma exemplar do evento, contribuindo com a participação e até adiando compromissos para ficar até o fim. Que a trilha feita neste dia possa ser algo comum na vida destes e dos demais jovens da rede estadual e que não falte empenho deles para isso, pois como muito bem disse Antônio Machado, o caminho se faz caminhando.